domingo, 21 de junho de 2009

Desenvolvimento moral

Trabalho com uma turma que tem faixa etária em torno de sete e oito anos de idade. Certo dia cheguei na escola, peguei as crianças na fila e antes de chegar até a sala eles, agitados, contaram que um aluno da 4ª série havia mexido na pasta de um colega da nossa turma e pegou o dinheiro desse colega que seria para ele comprar seu lanche.Conversei com o menino e perguntei se era verdade, ele disse que sim. Então fui até a sala do menino perguntar o que havia acontecido, antes mesmo de eu terminar de falar ele começou a gritar e saiu sem falar com a professora, dizendo que era apenas uma brincadeira. Sua reação foi muito violenta, ele não deu oportunidade para uma conversa harmoniosa. Foi até a minha sala, entrou gritando e agredindo, com palavras, ao menino e a mim. Precisei segura-lo e tirar para fora da sala, mas ele não parou para conversar e saiu brigando e resmungando. No final o dinheiro estava na pasta, pois ele havia pegado e colocou novamente sem que o dono percebesse.
Refletindo sobre esse fato é possível observar o quanto o menino que agiu com agressividade e rebeldia deve estar habituado ao autoritarismo e a coação. Ele é um menino rotulado por suas atitudes, daqueles que a escola toda conhece, e seus professores agem com autoridade e punições, mas uma autoridade sem argumentação, que não possibilita a reflexão dessa criança sobre as intenções de seus atos. Essa atitude não faz com que a criança compreenda as regras e nem desenvolva relações interpessoais de cooperação e respeito.
A autonomia é a meta do desenvolvimento moral e a educação moral na escola precisa favorecer o pensamento moral autônomo decorrente das relações permeadas pela reciprocidade e respeito mútuo.
No exemplo ocorrido na escola fica claro que quanto mais coação utilizada pela autoridade, mais prolongada será a heteronomia e mais difícil o desenvolvimento da autonomia moral.
É necessário refletir sobre os conflitos existentes no dia-a-dia para que as intervenções que serão feitas possibilitem à criança construir valores e regras, ou seja, as intervenções decorrentes dos conflitos podem trazer conseqüências significativas na formação moral das crianças.
Segundo a teoria de Piaget é por meio dos conflitos que o processo de equilibração ou auto-regulação é desencadeado.
O que observo na prática é que os conflitos são vistos como prejudiciais ao bom desenvolvimento das relações entre alunos e professores e procura-se resolve-los através do uso de autoridade sem reflexão, da criação de regras impostas, da punição ou da transferência para a família ou especialistas. Mas através das leituras e reflexões sobre esse tema é possível entender que os conflitos podem ser oportunidades para que os valores e as regras sejam trabalhados, já que são naturais nas relações entre os sujeitos.

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