terça-feira, 29 de junho de 2010

Meu sonho

Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas.

Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo.

Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.
Rubem Alves.


Meu grande sonho é que todas as escolas fossem asas e que todos os educadores conseguissem se desprender de suas certezas tornando-as dúvidas para que fossem repensadas e modificadas.
Somente assim poderia ver todos os alunos trabalhando com interesse, com entusiasmo, com alegria, respeitando um ao outro, participando, construindo seu conhecimento de modo cooperativo, trocando idéias, discutindo os problemas e juntos encontrando a melhor solução, enfim formando uma grande rede de aprendizagem.
Esse curso nos proporcionou uma sementinha desse sonho, agora cabe a cada um de nós contagiar os colegas para que seja possível iniciar uma mudança.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Conflitos

Essa foi uma semana marcada por conflitos. Na turma tem dois meninos que, ultimamente, vivem com divergências, brigam, implicam, provocam um ao outro. Essas divergências estão começando a gerar ressentimentos. Venho fazendo intervenções através do diálogo, eles não sabem dizer o motivo de suas atitudes, apenas jogam a culpa um no outro, mas reconhecem que estão agindo errado e se comprometem a cumprir nossas combinações. No entanto, no outro dia, tudo recomeça.
Lembrei das interdisciplinas de Filosofia e Psicologia II , quando refletimos sobre os conflitos, sobre a importância de lidar com os conflitos de forma positiva,através do diálogo com intervenções e questionamentos que podem ser oportunidades para mudança de comportamento. Quando agimos por impulso, por exemplo, dando um castigo para cada um sem fazer com que pensem sobre o por que agiram dessa ou daquela forma, estaremos mantendo o desrespeito entre eles, isso poderá gerar mágoa ou insegurança, e na primeira oportunidade a criança poderá expressar essa raiva de alguma forma. Ao contrário, quando oportunizamos a reflexão sobre seus atos, a criança é estimulada a falar sobre seus sentimentos, aprendendo a analisar a situação a sua volta.
Normalmente, quando uma criança ou um jovem tem necessidade de chamar a atenção com atitudes agressivas ou rebeldes é porque estão precisando de ajuda. O educador precisa ter a sensibilidade para perceber isso e transformar o conflito em uma oportunidade do aluno reconhecer a si mesmo e modificar sua forma de agir.
A mediação de conflitos pode melhorar a qualidade da convivência na escola, baseada no diálogo, possibilitando o desenvolvimento da cooperação entre a comunidade escolar, incentivando a boa convivência, a solidariedade, o respeito, a tolerância, ou seja, práticas de convivência fundamentais na formação do ser humano
É necessário refletir sobre os conflitos existentes no dia-a-dia para que as intervenções que serão feitas possibilitem à criança construir valores e regras, ou seja, as intervenções decorrentes dos conflitos podem trazer conseqüências significativas na formação moral das crianças.
Segundo a teoria de Piaget é por meio dos conflitos que o processo de equilibração ou auto-regulação é desencadeado.
O que observo na prática é que os conflitos são vistos como prejudiciais ao bom desenvolvimento das relações entre alunos e professores e procura-se resolve-los através do uso de autoridade sem reflexão, da criação de regras impostas, da punição ou da transferência para a família ou especialistas. No entanto, os conflitos podem ser oportunidades para que os valores e as regras sejam trabalhados, já que são naturais nas relações entre os sujeitos.
"Seria importante a escola inserir em seu contexto o respeito pelo processo de desenvolvimento moral, não tachando mais certos comportamentos como violentos, mas como características de uma determinada fase da construção da autonomia da criança, pois, para que o sentimento de justiça se desenvolva, são necessários o respeito mútuo e a solidariedade entre as crianças e os adultos."
(trecho retirado do texto Significações de violência na Escola: Equívocos da compreensão dos processos de desenvolvimento moral na criança? de Jaqueline Picetti, estudado na interdisciplina de Desenvolvimento e Aprendizagem sob o enfoque da Psicologia II)

segunda-feira, 14 de junho de 2010

O aluno como sujeito do seu processo de aprendizagem

“Na relação professor-aluno, o diálogo e as perguntas abrem o espaço novo das respostas que não foram preparadas. A pedagogia “bancária”, é verdade, dá maior segurança ao professor que pode estabelecer limites ao que será “transmitido”. A elaboração do saber, além dos puros conhecimentos, não se faz sem riscos, sem desafios, para além da segurança que nossas verdades prontas nos oferecem. Aliás, tanto na vida como na escola toda segurança é sempre precária, provisória, histórica”. (Gadotti, 2004, pág. 141).
Essa citação de Moacir Gadotti possibilita a reflexão sobre a necessidade do educador de aperfeiçoamento, de mudança de pensamento, compreendendo que, nos dias atuais, suas certezas arraigadas não servem mais para atender o objetivo da educação, ou seja, formar cidadãos críticos, questionadores, participativos e sujeitos do seu processo de aprendizagem.
A segurança que essas certezas trazem deixam o educador mais seguro, porém estão deixando os alunos desestimulados, indisciplinados e sem interesse na aprendizagem. Observo muito isso nas séries finais, já que no turno da manhã trabalho como bibliotecária e tenho substituído alguns professores. Ouvi de uma turma de 6ª série: “A gente não agüenta mais copiar do livro, toda aula tem que copiar do livro e responder perguntas, isso é muito chato.” Por outro lado escuto dos professores: “ A turma 61 é impossível, não querem nada com nada, só bagunça”.
Como, nos dias de hoje, com a tecnologia a todo vapor, um professor apenas propõe aos alunos copiarem do livro? Eles só podem responder fazendo bagunça.
É necessário mudar esse pensamento, utilizando diferentes linguagens em suas aulas, ouvindo os alunos, trabalhando com a pesquisa, com a expressão oral, com a ludicidade, com a cooperação, interagindo com o aluno e possibilitando que ele seja sujeito do seu processo de aprendizagem. Quem sabe não seria o caminho para diminuir a indisciplina?
Essa semana estou concluindo meu estágio com muitas expectativas positivas de continuar um trabalho que permite aos alunos construírem suas aprendizagens através da tecnologia, da música, do teatro, da pesquisa, da expressão oral, da leitura, das brincadeiras, ou seja, aprendendo a aprender com alegria, com prazer, com emoção, com cooperação e principalmente como sujeitos desse processo.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Em busca da autonomia

Trabalhamos nessa semana sobre os hábitos de higiene, após as pesquisas, reflexões, construções de cartazes a proposta era de construir uma história sobre o tema, confeccionar os personagens e apresentar, mas na hora de formar os grupos surgiu um conflito. Um menino disse: “Prô, tu poderia formar os grupos." Questionei por que, afinal eles sempre escolhem seus grupos. Ele respondeu que havia alguns colegas que sempre ficavam juntos e que ele achava melhor trocar os grupos e trabalhar com outros colegas. Perguntei à turma se concordavam, a maioria disse que sim. Questionei sobre o que poderíamos fazer, disseram que era melhor a professora escolher. Sugeri então, que fizéssemos um sorteio. Aceitaram a proposta e trabalharam nos grupos com interação e colaboração, mas algumas crianças me perguntam muitas decisões que precisam tomar, ainda não conseguem decidir isso no grupo, precisam da aprovação da professora. Sempre devolvo a pergunta dizendo que precisam decidir juntos o que será melhor para o grupo. É difícil trabalhar a autonomia na escola quando não há continuidade do trabalho, ou seja, alguns professores trabalham para desenvolve-la e outros não. É necessário que esse seja um projeto de toda a escola.
Na escola, desde os tempos mais antigos, as crianças não são estimuladas a pensar e tomar decisões, ao contrário, são levadas a obedecer e dar respostas prontas, memorizadas.
Por isso através do trabalho em grupo, do respeito à opinião das crianças, das reflexões proporcionadas pelos questionamentos e da relação afetiva entre professor e aluno é possível o desenvolvimento da autonomia. Sobre isso Célia Barros dos diz:
“Quando os adultos não castigam as crianças por seus erros, mas usam diálogo, trocando pontos de vista com elas, estão desenvolvendo a sua autonomia, a capacidade de tomar decisões por si mesmas, levando em consideração o ponto de vista das outras pessoas. As crianças que são estimuladas a tomar decisões são encorajadas a pensar. O oposto da autonomia é a heteronomia: seguir as opiniões de outras pessoas. Muitos adultos não se desenvolveram, mantiveram-se intelectualmente heterônomos e acreditam no que lhes dizem, sem fazer perguntas. Aceitam conclusões ilógicas, slogans e propagandas, sem questioná-los”. (Barros, 1996, pág. 33).