segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Síntese do filme Doze Homens e uma sentença

SÍNTESE

Esta síntese tem por objetivo demonstrar, de forma objetiva, a construção dos conceitos de EVIDÊNCIAS e ARGUMENTAÇÃO, desenvolvidos através do processo de debate sobre o filme Doze Homens e Uma Sentença, realizado no Fórum.

Em linhas gerais, após a sessão do julgamento, doze jurados se retiram para deliberarem sobre culpa ou inocência do réu, um rapaz de dezoito anos, criado pelo pai, em meio à pobreza e violência (DA SILVA FRAGA K. A.), com passagens pelo Juizado de Menores e pelo reformatório. Embora, não tenhamos acompanhado o julgamento em si, cada jurado trouxe ao grupo aquilo que considerava como prova irrefutável ou álibi (DA SILVA FRAGA K. A.).

Nesse processo, onze jurados, votaram por sua culpa, sem maiores questionamentos, sendo que o jurado número oito foi o único a questionar às evidências apontadas, pois as argumentações dos outros jurados, não eram consideradas plausíveis o suficiente, por ele, para condená-lo (MARCICO CHIAVARO L. A.), votando por inocente. O debate torna-se então, um exercício de argumentação onde alguns personagens possuíam maior domínio e compreensão dos processos de seu raciocínio, expressando-se de maneira clara e coerente numa seqüência lógica de idéias as provas que, a seu ver, davam-lhes convicção de terem assumido a postura correta em sua opinião entre culpado ou inocente; enquanto outros demonstravam não possuírem a articulação necessária para explicarem suas posturas (NOBLE TAVARES M. R.), na tentativa de convencerem este jurado de seu equívoco.

A dúvida foi crescendo e os conflitos e preconceitos de cada um, como jurados e pessoas, foram misturando-se (DA SILVA FRAGA K. A.), ao longo do filme, notamos que não havia evidências que apontassem a culpa, real do menino, deixando sempre uma margem de dúvida. Essa margem foi levando os personagens a formularem de maneira mais adequada suas, já não tão claras, certezas (NOBLE TAVARES M. R.). Conduzindo-os, aos poucos, a reverem suas posições e reverterem seu voto. Um dos jurados, o mais desequilibrado, que gritava, com uma certeza forte de que o rapaz era culpado, na verdade trazia um conflito pessoal, com seu filho, à discussão (DA SILVA FRAGA K. A.), sendo o último a concordar com a inocência do réu.

Em nossa construção sobre os conceitos de evidência e argumentação, buscamos, primeiramente, delimitar o campo conceitual, através dos verbetes:

EVIDÊCIA: Clareza, certeza.

ARGUMENTAÇÃO: Ato de argumentar; conjunto de argumentos; discussão; controvérsia.

ARGUMENTAR: Servir-se de argumento; discutir; raciocinar; rel. deduzir, concluir; tirar ilações: t. -rel. pregar, ensinar.

ARGUMENTO: Raciocínio pelo qual se tira uma conseqüência; indício; assunto; sumário; altercação. [1]

Dessa forma tiramos de nossa discussão, várias conclusões, a cerca de nós mesmas, do nosso exercício profissional e da relação com nosso aluno.

Muitos questionamentos vieram à tona, nesse processo, sendo discutidos por nós e relacionados com nossas experiências, evidenciando a atualidade do tema desenvolvido no filme; sua semelhança com situações presentes em nosso dia-a-dia, em relação ao fazer escolar:

A semelhança com um “Conselho de Classe”; os arquétipos representados pelos personagens; a facilidade e clareza com que algumas pessoas expressam seus pensamentos, enquanto outras sentem dificuldade em traduzi-los, de maneira lógica (NOBLE TAVARES M. R.).

A precipitação de algumas pessoas em emitirem um juízo de valor, sem uma reflexão prévia; evidências que em si podem ser consideradas, também, argumentações; os motivos que levam alguém a cometer um crime; a pobreza, as agressões sofridas no cotidiano são motivos que continuam ocorrendo na existência de muitos de nossos alunos; as relações familiares e pessoais que pesam em nossas decisões (MARCICO CHIAVARO L. A.).

As situações conflituosas que envolvem as relações humanas, seus processos psicológicos; os preconceitos; a tendência de algumas pessoas, em tomarem para si opiniões alheias, numa reação de credulidade, comodismo ou falta de consciência; a aproximação da situação representada no filme com a realidade de nossos alunos, da nossa sala de aula e da nossa vida; os papéis que assumimos em nosso cotidiano; a bagagem que carregamos e que colore nossas decisões (DA SILVA FRAGA K. A.).

Até que ponto nossa interpretação interfere sobre os fatos, a ponto de transformá-la em verdade; existe verdade absoluta, ou apenas verdades relativas; o que nos dá certezas e o que nos leva a ter uma dúvida razoável (DA SILVA PERES L. P.).

O que faz transformarmos nossas suposições em certezas; as lembranças e esquecimentos, no processo da memória que vivência traumas; a dificuldade que algumas pessoas possuem de enfrentar seus próprios fantasmas e a resistência em aceitar a opinião dos outros, ou de se colocar no lugar de outra pessoa; o poder que, muitas vezes, temos de decisão sobre a vida de outras pessoas e a responsabilidade que, nossas escolhas, implicam; (DOS PASSOS L. R.).

Os preconceitos que carregamos em relação à classe social, culturas, habilidades e estilos de vida; a falta de respeito e de responsabilidade, diante de outras manifestações de vida; a tomada de decisão baseada no pensamento da maioria; o quanto é difícil separarmos a emoção da razão; e que, podemos sim rever nossas posições, revertendo-as; a responsabilidade que temos em relação ao presente e futuro de nossos educandos (RAMOS PAIM L. M.).

A necessidade de se questionar os acontecimentos, explorar as possibilidades; a persistência em nossas convicções e valores; os pontos de interrogação que fazem com que nenhuma certeza seja eterna. (CASTRO K. W.).

Diante dos questionamentos surgidos no decorrer do debate, as evidências que encontramos no nosso dia-a-dia, fizeram-nos argumentar sobre nossas dificuldades, sobre os papéis que desempenhamos nesse exercício diário, e os julgamentos que emitimos a respeito de nossos alunos. Fez-nos ver, que muitas vezes somos preconceituosos como os onze jurados, ou assumimos a investigação dos fatos, como o jurado número oito, esgotando as possibilidades de certezas e plantando uma dúvida razoável, capaz de fazer com que olhemos nosso aluno de forma mais humana, compreendendo seus argumentos.

Muitas vezes, aquilo que julgamos evidências, não são fatos, são percepções e essas, não são tão claras assim, pois, baseiam-se em nossa subjetividade, na maneira como interpretamos o mundo a partir de nossa relação com ele.

Para finalizarmos, nas palavras da colega Karina, nosso debate foi capaz de trazer tudo isto para a nossa realidade de sala de aula, [...] o filme nos traz grandes reflexões. Por exemplo, quantas vezes julgamos nossos alunos, declarando-os culpados por serem rebeldes, não participar ativamente da aula, serem agressivos com outros colegas, não fazerem os temas e trabalhos solicitados, entre outras coisas. Será que ao invés de tirar nossas próprias conclusões não devemos primeiramente investigar os fatos, estarmos atentos aos detalhes, ou apenas ouvir as argumentações dos nossos alunos? Quantos profissionais da educação, nossos colegas, rotulam alunos como sendo “perdidos” ou “futuros marginais”, sem tentar entender as causas de seus comportamentos, ou sem até mesmo tentar orientá-los frente a seus conflitos e inquietações? (CASTRO K. W.)



[1] BUENO, Francisco da Silva. Dicionário Escolar da Língua Portuguesa – Ministério da Educação e Cultura FENAME – Fundação Nacional de Material Escolar. Ano 1976.

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