quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Contando histórias

Hoje vou relatar uma atividade que fiz com algumas crianças da escola e da minha família: pedi que me contassem uma história, ouvi e fiz alguns questionamentos. Normalmente trabalhamos contando histórias, mas dificilmente paramos para ouvir e essa atividade foi muito prazerosa para mim, pois tive a oportunidade de ouvir as crianças e aprender que dessa forma é possivel desenvolver e valorizar a linguagem oral,a criatividade e ainda perceber que durante a narrativa a criança pode estar expressando seus próprios sentimentos ou conhecimentos. Gostei muito desse trabalho e escolhi uma das histórias para transcrever e analisar. Segue abaixo:

Transcrição da narrativa
A bela e a fera

Era uma vez uma princesa chamada Cinderela. Uma vez ela tava com o vô dela e daí ela foi sair, foi comprar uns livros.
Lá vou eu passear. Eu tava passeando com meu vô e fui num castelo i incontrei um dragão i ele disse bem assim: Vou ti come todinha i botou ela de castigo no seu quarto e depois disse assim: Bota uma roupa bem bonita e vamo janta. E ela disse: Não, não, não vou, você é um velho maldito.
Daqui a pouco o dragão disse: Vai toma um banho e ela disse: Não vo sai desse quarto, só quando você se bonzinho comigo. Daí ele tinha um potinho com uma flor e daí de dia ele virava um homem normal e bonzinho, um príncipe. Daqui a pouco ele disse: Eu nunca mais vo se mal com você.
E eles se deram um beijo e foram felizes para sempre.

FIM.

Brenda - 6 anos




Análise da narrativa


A criança que relatou a história é aluna do 1º ano e demonstra ter bastante contato com a escrita, com histórias contadas em casa e na escola e muita imaginação.
Na história relatada há uma mistura de personagens de diferentes histórias como a bela, a fera, a Cinderela, o dragão e também a presença do avô, da compra de livros, do botar de castigo que mostram a inferência que a criança fez da realidade, do seu cotidiano, o que comprova sua autoria da história.
Apareceram na história os elementos básicos da narrativa: Era uma vez e foram felizes para sempre, bem como a repetição de expressões que dão continuidade à história como daí, daí, então, daqui a pouco.
Na narrativa é possível observar o sincretismo, ou seja, a liberdade de associar elementos da realidade segundo critérios pessoais, pautados principalmente por afetividade, observação e imaginação.
As crianças têm muitos conhecimentos, informações, sentimentos e podem expressa-los através das narrativas de histórias. Por isso a importância de valorizar a linguagem oral, permitir que contem suas histórias e parar para ouvi-las, possibilitando uma interação com a criança, fazendo questionamentos que estimulem a continuidade da história, sem a preocupação se o que ela conta é verdade ou invenção, mas embarcar na aventura.
O adulto deve ter o cuidado de não tirar conclusões precipitadas sobre as narrativas, pois a criança falar sobre brigas, castigos, por exemplo, não quer dizer que isso aconteça na casa dela.

2 comentários:

Geny disse...

Visitando o seu portfólio percebi o quanto esta sendo muito bem documentado,
com seus registros apresentam clareza e objetividade com reflexões pertinentes a sua trajetória acadêmica. A entrevista com as crianças é muito importante para os profissionais em educação, nos dias do hoje todo o professor deve ser um pesquisador para que consiga acompanhar a evolução do pensamento das crianças e dos adolescentes. Com toda a tecnologia que avança a cada minuto e a mídia com sua gigantesca comunicação, tudo acontece muito rápido e muitas vezes a família e a escola não estão preparadas para ajudar na filtragem das múltiplas informações com violências e outras coisa negativas que entram em nossas casas todos os dias.
Parabéns! Obrigada por suas postagens.
Um grande abraço,
Geny Schwartz da Silva
PEAD/FACED/UFRGS

Anice - Tutora PEAD disse...

Olá, Ligia!

Bem interessante o relato da tua aluna. Fizeste uma boa ligação com os conteúdos que ela trouxe, com a fase que ela se encontra e com a realidade desta.

É preciso entender que nesta fase a criança irá unir fantasia com realidade.

Falaste de algo bem pertinente: o adulto não deve tirar conclusões precipitadas e deve incentivar que a criança conte, crie e faça uso de sua imaginação.

Abraço, Anice.